terça-feira, 25 de setembro de 2012

No meio de polêmicas ideológicas e científicas, os modelos de subsistência têm sido muito úteis no entendimento do comportamento humano. É fundamental que sejam encarados como modelos analiticos, ou seja, ferramentas úteis para entendermos o que se passa entre o homem e a natureza.
Sociobiologia
A sociobiologia desenvolveu-se a partir dos anos 70 e inclui disciplinas como a etologia clássica, a ecologia evolutiva e a genética. Com relação à etologia, Fox & Fleising (1976) chamam a atenção quanto ao sucesso desta área sob Lorenz e Tinbergen, influindo também a primatologia de Washburn, a importância crescente da ecologia e os nonos avanços na biologia molecular, endocrinologia e neurologia.
A etologia clássica é uma precursora da sociobiologia, na medida que a base genética de comportamentos humanos é uma das abordagens da área. Os trabalhos de Lorenz (1963) sobre a agressão humana e as comparações entre os comportamentos humanos e os de outros animais (Ardrey, 1966; Morris, 1967; Tiger & Fox, 1971; Tinbergen, 1968) são exemplos clássicos de estudos de etologia.
Hamilton (1964) e Wilson (1975, 1978) são os precursores da sociobiologia. O primeiro ao desenvolver o conceito de aptidão inclusiva e o segundo com os trabalhos sobre socialidade em insetos e no homem.
O conceito de aptidão inclusiva engloba o valor adaptativo individual (prole) e a representação genética em parentes próximos. Por exemplo, entre insetos sociais (abelhas, formigas, vespas), pela característica peculiar da determinação do sexo nestes grupos, as irmãs são mais próximas geneticamente entre si do que com a mãe. Assim, como observado, a ajuda entre irmãs aumenta a aptidão inclusiva (Alcock, 1989). Dessa forma, comportamentos "altruísticos" passaram a ser explicados. Cabe lembrar que em biologia altruísmo significa um ato que aumenta as chances de sobrevivência e reprodução do receptor em detrimento destas no ator. Assim, o cuidado parental, o amor fraterno e as "obrigações familiares passam a ser explicadas pelo chamado índice ou coeficiente de parentesco. Este índice (r) é a probabilidade média de gens aserem compartilhados por dois parentes. Por exemplo, entre irmãos é de 50% e entre tio-sobrinho ou avô-neto é de 25%. A forma de calcular este índice pode ser encontrada em Barash (1977: 87) ou Dawikins (1976: 117).
Da interação da ecologia (evolutiva e de sistemas) com a antropologia, surge a ecologia cultural ou antropologia ecológica.
O livro Sociobiology de Wilson (1975) foi a semente. inicial da disciplina e de uma grande polêmica dentro das ciências biológicas e entre estas e as ciências sociais. Apesar de no Brasil termos tido pouco contato com a sociobiologia, por razões que não cabe discutir neste texto hoje a sociobiologia, é reconhecidamente uma disciplina importante e conta com periódicos conceituados comoo Behavioral Ecology and Sociobiology e Ethology and Sociobiology.
Uma das grandes contribuições da sociobiologia é ter questionado um antropocentrismo tão difundido nas ciências sociais. Mesmo sendo o homem 'tum caso especial evolutivo", de acordo com Wilson (1978), a evolução não tornou a cultura toda poderosa. Em outras palavras, a cultura é carregada por organismos que contém gens (Boyd & Richerson, 1981).
A contribuiçãxo daquele que pode ser considerado como o fundador da sociobiologia (E. O. Wilson) é extensa e o assunto é polêmico. Em 1975 e 1978, Wilson chamou a atenção para a flexibilidade comportamental humana, que teria base genética e sera mantida inclusive por falta de competição com outras espécies. Ao mesmo tempo, Wilson observou padrões comuns de comportamento humano em distintos povos e culturas. Ou seja, não há população humana sem família nuclear, sem formalização de parentesco, sem rituais sacros, sem ética ou regras de ação social, sem estética, sem estrutura gramatical e sem homossexualismo, dentre outros. As formas de expressão de comportamento podem variar entre os povos, mas o comportamento é o mesmo. Por exemplo, ponos com religiões diferentes acreditam em deuses com formas e em número diferentes. Entretanto, todos têm alguma forma de ritual sacro. O trabalho de Wilson, junto com Lumsden (1981, 1983) se tornou complexo, aprofundando mecanismos mentais e modelos sobre evolução humana. Exemplos são as regras epigenéticas, ou a canalização do desenvolvimento mental e os culturgens, que são um grupo homogêneo de construçoes mentais e seus produtos. Este último conceito assemelha-se ao que Dawkins (1976) chamou dememes (idéias, traços, culturais). Por exemplo, modas são um exemplo de um meme de curta duração e tradições exemplificam um meme de longa duração.
Em sociobiologia humana, muitos outros pesquisadores estudaram temas específicos. Alexander (1979) analisou as relações entre formalizações de parentesco e a proximidade genética. Por exemplo, a existência de sociedades matrilineais é explicada pela baixa confiança na paternidade e a transmisão da herança do homem para os filhos da irmã é uma conseqüência de pouca confiança em paternidade. Para ambos os casos, não vale a pena um indivíduo "investir" em filhos biológicos. Como os filhos da irmã são, com certeza, geneticamente relacionados ao indivíduos a herança é transmitida a eles. Mulder (1988) pesquisou os Kipsigis do Quênia e observou que um alto dote é pago para noivas jovens e um dote baixo é pago para noivas com filhos de outro homem. Os Kipsigis não adotam facilmente crianças. Outros trabalhos sobre parentesco, estratégias femininas e masculinas, individuais e grupais estão em Chagnon & Irons (1979).
Os trabalhos de Trivers (1971, 1985) sobre altruísmo são muito importantes nesta área. Atos altruístas humanos, são, por exemplo, a ajuda em momentos de perigo, a divisão de comida, ajuda a doentes, crianças e idosos e a divisão de conhecimento. O altruísmo inclui desde a dedicação paterna e o nepotismo (aí com aumento de aptidão inclusive) ao chamado altruísmo recíproco, quando o altruista pode ter uma recompensa não-genética. Assim, conforme a idade avança, tanto os custos como os benefícios do altruismo diminuem, porque a idade reprodutiva já passou e as possibilidade do indivíduo ser recompensado "em tempo" diminuem. A análise das relações de cooperação levaram Axerold (1984) a simular em computador como funciona o altruísmo recíproco em vista das possibilidades de trapaça (ato não recompensado. A estratégia échamada de "TIT-FOR-TAT" ("toma lá, dá cá"): comece cooperando e faça o que o oponente faz, ou seja, não coopere se for trapaceado mas aceite as desculpas e volte a cooperar. Nas populações humanas, as conseqüências do altruísmo, em todas as suas modalidades são a amizade, a agressão moral ou ingratidão (quando a trapaça é descoberta), a gratidão, a culpa e reparo e o senso de justiça. Xenofobia e atos de heroísmo são também analisados por Alexander (1979) como relacionados a altruísmo.
Outros sociobiólogos são Barash (1977, 1979, 1986), que analisa comportamentos de outros animais comparados ao do homem e Van der Berghe (1973), que estuda a sexualidade.
Cabe aqui uma pequena observação. A sociobiologia não pretende substituir explicações culturais, mas sim contribuir com dados genéticos que influenciam o comportamento. São faces diferentes da mesma moeda. Por exemplo, estudar o parentesco sob o ponto de vista biológico é tão fundamental como sob o econômico ou cultural (formação de alianças). Felizmente, o debate cultura versus gens foi praticamente superado e hoje não é mais levado a sério pelos estudiosos da área e pela comunidade científica.
A polêmica gerada pela sociobiologia foi intensa entre 1975-85. Iniciando-se como o Study Group of Science for the People esta disciplina foi acusada de determinista, de manter o status quo das desigualdades no mundo e foi considerada como uma teoria "de direita". De acordo com Wilson (1978), na revista Science for the People de Novembro de 1975, as críticas mais importantes deste grupo dirigiram-se ao deerminismo biológico e ao revisionismo soviético. Sahlins (1977) e Lewontin et al. (1984) analisam de forma crítica, e também ideológica, a disciplina. Vale a pena consultar Ruse (1983) sobre este debate.
Dentro da ecologia evolutiva, alguns pesquisadores criticaram algumas premissas da sociobiologia, que é a de coonsiderar a cultura sendo governada pelos mesmos mecanismos evolutivos que os gens e desta ser sempre considerada como "adaptativa" ("argumento das origens naturais" - Boyd & Richerson, 1985). Este grupo é o que defende a coevolução dos gens e da cultura e, sem desmerecer a grande contribuição sociobiológica, tenta avançar nos modelos de transmissão cultural.
A intereção da ecologia evolutiva com a etologia ajuda no surgimento da sociobiologia.
Modelos de Transmissão Cultural
Os precursores dos modelos de transmissão cultural encontram-se na década de 70. Um deles, Ruyles (1973), compara a "estratégia dos gens" para se reproduzirem com a "estratégia das idéais" para se reproduzirem na mente dos indivíduos. Cloak (1975) analisa como a seleção natural atua na cultura e discute a possibilidade de uma "etologia cultural". Em 1978, Durbam afirma que a seleção cultural écomplementar à seleção natural, sem a base genética da segunda e que o estudo do comportamento social humano deve integrar os mecanismos de herança genética e cultural. A comparação entre os dois sistemas é analisada por Durham en 1982.
Caminho semelhante éseguido por outros pesquisadores interessados na integração ou coevolução dos sistemas genético e cultural. CavalliSforza & Feldman (198l) definem cultura com ênfase na transmissão cultural, ou seja, sendo a capacidade de aprender e transmitir conhecimento entre gerações. A transmissão cultural vertical (pais para filhos), horizontal (mesma geração) e oblíqua (entre gerações) é analisada pelos autores citados junto com as forças de evolução cultural. Estas são mutação (erro ao copiar), seleção natural (quando um traço cultural aumenta as chances de reprodução, seleção cultural (probabilidades de que uma idéia aumente de freqüência em uma população). A difusão de inovações, ou de um traço cultural, écomparada a uma epidemia, quando há aumento de freqüência de um vírus. Os autores mostram que certos traços culurais podem não ter relação alguma com a aptidão, como beber coca-cola ou brincar com iô-iô, idéia compartilhada por Pulliam & Dunford (1980).
Os pesquisadores preocupados em entender o comportamento sob o ponto de vista genético e cultural focalizaram seus estudos em quatro aspectos: comparar sistemas de herança genético e cultural, entender as forças de transmissão cultural (seleção cultural, por exemplo), entender as principais estratégias de aprendizado humano em termos evolutivos (tentativa-e-erro, imitação e aprendizado social-Pulliam & Dunford, 1980) e calcular os "coeficientes de similaridade cultural" (análogos aos coeficientes de parentesco genético).
O coeficiente de similaridade cultural baseia-se na probabilidade de indivíduos dividirem a mesma idéia. Por exemplo, coeficientes de similaridade entre pais e filhos variam entre 0 e 1, dependendo do grau de influência dos pais. Pais ausentes tenderão a apresentar um coeficiente baixo em relação aos filhos. Estes coeficientes foram modelados para o entendimento de sistemas de parentesco e herança, como por exemplo matrilincaridade. Os resultados foram comparados aos de Alexander (1979) na sociobiología. A matrilinearidade, também explicada por alta incerteza da paternidade, aumenta as chances de ausência paterna e diminui sua influência no aprendizado da prole, apresentando coeficiente baixo entre pai e filhos e alto entre mãe e filhos. A cooperação foi também estudada em relação ao tipo de residência (patrilocal ou matrilocal). Onde há um maior coeficiente de similaridade cultural há maior cooperação, como entre irmãos de residência patrilocal (Pulliam, 1982; Werren & Pulhan 1981).
Boyd & Richerson (1985) sistematizaram as diferenças e semelhanças entre os sistemas genético e cultural e propuseram algumas forças de evolução cultural sem analogia com as genéticas. O modelo proposto chama-se herança dual (dual inheritance). De acordo com os autores, os mecanismos evoluüvos genéticos são conhecidos e falta entender os mecanismos evolutivos culturais.
As forças de evolução cultural de Boyd & Richerson (1985) são a) variação ao acaso (análoga àmutação): por exemplo, a tradição oral "muda" os fatos; b) oscilação cultural (análogo à oscilação genética): perdas de traços culturais ao acaso, em populações isoladas e pequenas; c) variação dirigida (guided variation): inclui aprendizado por tentativa-c-erro, introduz variação na população; d) seleção natural: comportamentos que aumentam as chances de sobrevivência aumentam de frequencia em uma população; e) transmissao desviada (biased transmission): inclui os desvios diretos, indiretos e dependentes de freqüência. Esta é uma das principais forças de evolução cultural, baseada na imitação, já que de acordo com Boyd & Richerson (1985) é muito menos custoso imitar que tentar-e-errar.
O desvio direto (direct bias) inclui a imitação de um comportamento sob observação, onde os resultados podem ser avaliados. Por exemplo, experimentar uma inovação após ter observado seus efeitos com terceiros. O desvio dependente de frequência (frequency dependent bias) significa imitar comportamentos muito comuns ou muito raros. A imitação de comportamentos comuns aumenta de chances de imitar um comportamento adaptativo ("em Roma faça o que fazem os romanos"). O desvio indireto (indirect bias) pode ser representado pela imitação do comportamento de um modelo, que pode ser um líder, um professor, um músico (imitar o modelo gera prestígio). Este tipo de imitação pode gerar traços comportamentais exagerados e mal-adaptados. Um exemplo é a forma exagerada de se tatuar na Polinésia, onde muitas vezes todo corpo era tatuado, sendo doloroso, perigoso e caro.
Estudos empíricos incluindo transmissão cultural podem ser exemplificados com estudos sobre difusão de inovações, onde a transmissão de uma inovação entre indivíduos é analisada, podendo incluir forças de evolução cultural diferentes em etapas diferentes do processo (Begossi, 1989; Begossi & Richarson, 1991; Bold & Richarson, 1985).
Os sistemas de herança genético e cultural nem sempre são concordantes, de acordo com Bop & Richerson (1985). Por exemplo, a maternidade precoce aumenta a reprodução genética mas pode diminuir a cultural. Uma forma de maximizar a reprodução cultural pode ser através de um trabalho relacionado à formação intelectual de pessoas.
Algumas das discordâncias desta linha de trabalho com a sociobiologia incluem a ênfase de que nem sempre um comportamento é adaptativo em termos genéticos, que a cultura não é um extensão do fenótipo (o fenótipo é o resultados de dois sistemas de herança) e que a imitação é uma das forças mais importantes de evolução cultural. Para uma crítica aos modelos de coevolução gens/cultura, veja Flinn & Alexander (1982).
O "objetivo" da natureza é minimizar o máximo de retorno ao consumidor (MINIMAX) e o do consumidor é o de maximizar o mínimo de retorno (MAXIMIN).
Ecologia Aplicada
Nesta linha de pesquisa são estudados os aspectos relacionados à ecologia de populações, em particular sobre a relação das populações humanas (aspectos demográficos) com a quantidade (escassez) e qualidade (poluentes) dos recursos disponíveis. O debate sobre conservação, manejo e diversidade se enquadra nessa linha. Para a análise sobre a biodiversidade, consultar Wilson (1988, 1992).
Um conceito básico e útil na ecologia aplicada é o de capacidade de suporte. Esta representa o limite máximo de indivíduos que um ambiente pode suportar e é representada por K na equação logística de P. Verhulst (1838) e R. Pearl/L. Reed (1918) (Kormondy, 1976; Putman & Wratten, 1984). Alguns pesquisadores têm se preocupado com a aplicação e operacionalidade do conceito de capacidade de suporte em populações humanas. Fearríside (1986) estudou a relação entre o tamanho da população e a agricultura de pequenos colonos. Estes estudos referem-se em particular à colonização na Transamazônica e a projetos de colonização em Rondônia (Fearnside, 1980, 1987). Por exemplo, a relação entre colonização, desmatamento, construção de escadas e capacidade de suporte foi simulada por Fearnside (1986).
Uma das perguntas restes estudos se refere a como medir a capacidade de suporte. Para a agricultura de pequenos colonos, que envolve queimadas e rotação de terras, existem propostas diferentes de diversos autores. Fearmide (1986) apresenta algumas fórtnulas utilizadas para se calcular a capacidade de suporte, onde K é definida como a área per capita máxima dísponível para a agricultura e onde o consumo médio/per capita/ano, o número de áreas por período de plantio e a produção são íncluídos na fórmula.
Outra abordagem da ecologia aplicada relaciona crescimento populacional com deterioração ou escassez de recursos a nível mundial. Esta abordagem foi na realidade iniciada por Malthus (1798), que alertou sobre o crescimento da população (em progressão geométrica) que não acompanharia o da produção (em progressão aritmética). Malthus chama a atenção para os "cheques" preventivos (casamentos tardios, por exemplo) e positivos (doenças, miséria) que seriam necessários ou conseqüência do crescimento populacional. Malthus foi bastante criticado por Marx & Engels (veja coletânea de textos em Meek, 1971). As linhas recentes nesse debate são definidas como neo-malthusianas, marxistas ou nenhuma das duas. Dentro do "neo-malthusianismo", os trabalhos de Ehrlich et al. (1973), 1977) são talvez os mais representativos.
Em 1968, Paul Ehrlich chamou muito a atenção sobre o problema do tamanho da população e da limitação dos recursos; com o livro "The population bomb". Em 1973 (p. 8), Ehrlich et al. no livro "Human Ecology" mencionam de forma alarmista que a população humana, o consumo de recursos e o impacto iio ambiente estão crescendo exponencialmente. Em 1977 é lançado por Ehrlich et al. um verdadeiro tratado de 1051 páginas (Ecoscience) onde são analisados os ciclos de nutrientes, a população humana, os recursos renováveis, energio materiais e poluentes, incluindo tambem análises sobre controle populacional e mudanças sócio-políticas. Para estes autores, o controle populacional éa meta principal para amenizar o impacto das populações no ambiente e assegurar um nível de vida razoável às populações do Panes. Na década de 80, Ehrlich & EhrEch, (1986a) continuam a chamar a atenção para a destruição de recursos (combustíveis fósseis, so!os, espécies), deterioração do ambiente, desigualdades econÔmicas dentro e entre países, separatismos étnicos e religiosos, fome e desemprego. Para estes pesquisadores, estes aspectos se relacionam e derivam, basicamen'te, de um mundo superpopuloso. Ehrlich & Ehrlich (1 986b) afirmam que apesar de no passado a humanidade ter aumentado com sucesso sua capacidade de suporte com mudanças tecnológicas, este processo tem limites e existem razões para acreditar que estes limites chegaram. Outro pesquisador muito conhecido por esta abordagem éHardin (1967).
Outros estudos conhecidos com este enfoque foram o relatório do Clube de Roma (Meadows et al., 1972) e o Global 2000 (Barney, 1980). De acordo com este estudo, em 2030 existirão 10 bilhões de pessoas no planeta. Além disso, em regiões como as da África do sub-Saara e do Himalaia a capacidade de suporte foi excedida e a erosão da terra não garante más a produção de alimentos. No caso da região do subSaara, vale mencionar o estudo de Franke & Chasin (1980), que com outro enfoque, encontraram no colonialismo uma parcela fundamental de responsabilidade pela degradação ambiental naquela região.
A abordagem neo-malthusiana foi criticada por marxistas (Meek, 1971; Castellón, 1988) e não marxistas (Murdoch, 1980). De acordo com Meck (1971), existem recursos disponíveis mas pouca gente pode comprálos para os marxistas, pobreza e superpopulação são gerados pelo sistema de produção capitalista (Castellón, 1988).
O modelo mais utilizado em ecologia humana é o modelo de forrageamento ótimo, que tem sido amplamento usado para entender o comportamento dos animais.
Outra crítica ao neomalthusianismo é a de que a população deve ser uma variável dependente e não independente. Ou seja, a superpopulação é camada pela pobreza. Murdoch (1980) analisa, sob este ponto de vista, como a pobreza rural causa explosão populacional e como limita a produção de alimentos. Esta premissa está baseada na racíonalidade da decisão de ter muitos filhos em famílias pobres: os filhos ajudam no trabalho e garantem segurança e sustento na velhice. Além disso, pode ocorrer também a chamada "sobreprodução" de filhos: em situações de miséria, já que muitos filhos morrem ou têm grande chance de morrer por problemas de subnutrição ou doença (os "cheques positivos" de Malthus), então ter um número grande de filhos "garante" a sobrevivência de alguns. Esta lembra a "estratégia r" em organismos. Em ambientes considerados instáveis (ex. estágios iniciais de sucessão) uma estratégia adaptativa é investir em quantidade e não em qualidade ("estratégia K") (Puttman & Wratten, 1984), Para uma revisão do assunto veja Caldwell (1982).
Em sumo pelo menos duas questões permanecem no debate sobre população e disponibilidade de recursos: a) quanto maior a população maiores são a demanda por recursos e o "lixo" produzido por sua utilização - qual é este limite (K) ? Ou seja, mesmo com aumento da produção através de mudanças tecnológicas, esbarra-se no limite ambiental, h) se a pobreza é um dos fatores que contribui para o aumento populacional, o crescimento populacional não será somente resolvido com planejamentos familiares. Distribuição de recursos é o fator fundamental, Na prática, todas as abordagens mencionam de alguma forma estes aspectos, mas as prioridades são diferentes. Em setembro de 1989, um volume especíal da Scientific American foi dedicado à questão do manejo do planeta, incluindo o crescimento populacional (Managing planet earth).
Cabe também mencionar a linha de Boserup (1981) na antropologia, que relaciona o crescimento populacional com a mudança tecnológica. O primeiro impulsionaria a segunda e a história poderia ser analisada desta forma. Apesar desta linha ser considerada contrária à neo-malthusiana, existem tentativas de conciliar as duas (Lee, 1984).
Finalmente, dados recentes sobre a si,uação ambiental e populacional no mundo foram muito divulgados por diversas agências internacionais no Forum Global 92, Rio de Janeiro. A publicação Sociedade civil planetária (Nepam/Unicamp: no prelo) inclui uma avaliação dos tratados propostos durante o Forum Global.

Conclusões

As abordagens de ecologia humana expostas neste trabalho, como a ecologia cultural, a etnobiologia, a sociobiologia, os modelos de subsistência e de transmissão cultlural, e a ecologia aplicada têm um ponto comum: todas apresentam uma base ecológica com forte conteúdo biológico. Para entender a relação do homem com a natureza é necessário conhecer ambos e os conceitos e modelos analíticos de ecologia são uma contribuição para o entendimento da natureza e da relação entre as populações humanas e esta.
Não há divergência entre as linhas apresentadas: ao contrário, elas são complementares pois abordam perguntas diferentes e têm metodologias próprias de trabalho. São faces diferentes de uma mesma moeda. Por exemplo, a ecologia cultural estuda a influência de variáveis ambientais no comportamento e nas culturas humanas; a sociobiologia estuda as bases biológicas do comportamento e a etnobiologia os sistemas de classificação da natureza. Todas estas questões existem entre a humanidade e a natureza e perdem o sentido se são consideradas exclusivas. Ou seja, não cabe a cada linha de pesquisa exocar tudo, mas contribuir muito para uma pequena parcela do conhecimento sobre a relação do homem com o ambiente.
No Brasil, estudos de ecologia humana sobre populações indígenas ocorrem especialmente na Amazônia e incluem, em particular, ecologia cultural, etnobiologia e, em menor escala, niodelos de subsistência. Exemplos relativamente recentes são encontrados em Neves (1989). Estudos sobre outras populações da Amazônia, como caboclos, pescadores ou migrantes estão em Moran (1983) e Fearnside (1986). Dentre as linhas expostas de ecologia humana, a de etnobíologia é bem representada no Brasil, com estudos sobre populações indígenas. Estudos sobre populações lítorâneas, como as de calçaras (SE Brasil) e de outros pescadores-agricultores incluem aspectos ecológicos como territorialidade (Forman, 1970), diversidade e modelos de subsistência (Begossi, 1992b; Begossi & Richersion, 1993a,b), etnoictiologia (Marques, 1991) e tabus alimentares (Begost, 1992c). Num contexto mais social, embora ambiental e conservacionista, encontram-se estudos em Diegues & Sales (1988) e Di-egues (1989, 1990).

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